A Influência do Idioma Francês Sobre o Português é Inegável
A influência do idioma francês sobre o português é inegável. O sotaque dos cariocas, o chiado e os “erres” e “esses” carregados também são resultado dessa influência.
A influência do idioma francês sobre o português é inegável. O sotaque dos cariocas, o chiado e os “erres” e “esses” carregados também são resultado dessa influência.
No dia-a-dia, costumamos encontrar expressões tão comuns a no nosso vocabulário que nem se quer nos damos conta da sua origem. Algumas já caíram em desuso ou foram substituídas: sua avó certamente usava “fecho éclair” nas roupas e “rouge” para conferir uma cor às maçãs do rosto; hoje em dia, fechamos nossas roupas com um zíper e nos maquiamos usando blush.
Antigamente, os homens solteiros (e outros casados, também), frequentavam casas denominadas rendez-vous, onde trabalhavam moças de reputação não tão ilibada.
Hoje em dia... bom, deixemos os detalhes pra lá. Antes, as coisas fora de moda ou bregas eram tachadas de démodé. E até hoje, de vez em quando somos acometidos por aquela sensação de déjà vu, que nos faz pensar sobre nossa percepção da realidade.
Há um sem fim de palavras que derivam da língua francesa e foram incorporadas ao léxico da língua portuguesa. Segue abaixo uma pequena lista com alguns exemplos:
Arte e decoração: Avant-première, apothéose, ballet, crépon, crochet, composé, croquis, corbeille, doublé, guirlande, hors-concours, marchand, marionnette, matinée, maquette, mise-en-scène, passe-partout, papier mâché, reprise, tournée, tricot, troupe, vernissage, vernis.
Cores: Bordeaux, beige, carmin, changeant, dégradé, fumé, lilas, marron, ton sur ton.
Esporte: Guidon, grand-prix, pivot, raquette.
Gastronomia: À la carte, buffet, baguette, bonbonnière, canapé, croissant, croquette, champignon, champagne, chantilly, couvert, crêpe, chinois, escargot, filet, fouet, frappé, glacé, guéridon, garçon, mignon, mousse, menu, maître, omelette, purée, petit gâteau, pâté, rôtisserie, réchaud, rosé, sauté, soufflé.
Moda e vestuário: Bustier, boutique, cache-col, chanel, chic, escarpin, écharpe, évasé, godet, jabot, lingerie, maillot, maquillage, mousseline, nécessaire, organdi, peignoir, pochette, prêt-à-porter, plissé, rouge, robe, soutien, tailleur, taffetas.
Uma das palavras mais curiosas, exemplo da influência do francês sobre o português é o vocábulo “defenestrar”. Derivado do francês défenestrer, significa “atirar (-se) pela janela” ou “livrar-se de alguém”.
Com pouco uso atualmente, a curiosa palavrinha causa dúvidas e até graça, como brilhantemente expressado pelo escritor Luis Fernando Veríssimo no trecho que reproduzimos abaixo:
“(...) Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um som lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:
-Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas...Ah, algumas defenestravam.
Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria assim defenestradores profissionais.
Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais? "Nestes termos, pede defenestração..." Era uma palavra cheia de implicações. Devo tê-la usado uma ou outra vez, como em:
-Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada era a palavra exata.
Um dia finalmente procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. "Defenestração" vem do francês defenestration. Substantivo feminino, ato de atirar alguém ou algo pela janela.
Acabou a minha ignorância mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal,não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?
Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como rapé. Um vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo.
-Les defenestrations. Devem ser proibidas.
-Sim, monsieur le ministre.
-São um escândalo nacional. Ainda mais agora, com os novos prédios.
-Sim, monsieur le ministre.
-Com prédios de três, quatro andares, ainda era admissível. Até divertido. Mas daí para cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: interdit de defenestrer. Os transgressores serão multados.. Os reincidentes serão presos.
Na bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.”
(Luís Fernando Veríssimo. O Analista de Bagé. 6ª ed. Porto Alegre.L&PM ed. 1981. p. 29-31)
No Maranhão, estado que foi dominado pelos franceses que queriam fundar a França Equinocial e que até fundaram a sua capita, São Luís em homenagem ao rei francês Luís XIII.
Os "invasores" da França fora expulsos do Maranhão, porém alguns pequenos legados ficaram na arquitetura da cidade, e em algumas vilas de pescadores da cidade, se nota um tom "afrancesado" na maneira das pessoas dizer frases como "boa noite" que lhes sai algo como "boa nuit".
Lhes deixamos com essa bela música "afrancesada" de Edinardo, que pergunta se você já leu "O artigo 26" - remetendo-se a Declaração Universal dos Direitos do Humanos, que diz: "Todo ser humano tem direito à instrução."