Por Que Um Estrangeiro Vai Querer Aprender Português?
Essa semana foi publicada na Folha de São Paulo, a notícia de que a língua portuguesa ainda é considerada periférica mesmo sendo falada por 260 milhões de pessoas em quatro continentes.
Essa semana foi publicada na Folha de São Paulo, a notícia de que a língua portuguesa ainda é considerada periférica mesmo sendo falada por 260 milhões de pessoas em quatro continentes.
Mas a pergunta é: Por que um estrangeiro vai querer aprender português?
A resposta à essa pergunta sempre bandeou pelos lados da estética. Enquanto nós, brasileiros, pressionados pelo mundo cada vez mais globalizado e com o comércio cada vez mais sem fronteiras, fomos obrigados (pelo menos a minha geração foi) a aprender inglês com objetivos meramente mercadológicos (conseguir um bom emprego).
Os gringos, já que nós não somos uma potência econômica, nunca tiveram, tal motivação de ordem mercadológica para aprender nosso idioma, salvo que por puro desejo pessoal.
E, como na maioria das vezes, os motivos mercadológicos, ainda que em desacordo com os ideológicos, sobressaem aos motivos estéticos e aos prazeres individuais, nossa língua é muito pouco estudada como segunda língua.
Exceto, é claro, como dito no primeiro parágrafo, por motivos estéticos: uma passista japonesa que se apaixonava pelo samba e pela sua cultura (e precisava aprender a linguagem na qual a mesma lhe poderia ser transmitida), um sério lorde britânico que se espantava com nossa espontaneidade e queria levar essa alegria para suas relações no Reino Unido (e precisava aprender a linguagem na qual a mesma lhe podia ser transmitida);
Ou ainda, por motivos artísticos: músicos pop americanos que adoravam a batida do samba, rappers que se apaixonavam pela batida do Olodum e jazzistas que tinham orgasmos musicais ao ouvirem a união de nossa língua vocálica às melodias do piano de Tom Jobim ou do violão de João Gilberto na Bossa Nova.
A admiração dos músicos anglófonos pela sonoridade de nossa língua é tão grande que, até mesmo David Bowie, ao ouvir as versões em português de suas músicas feitas pelo músico brasileiro Seu Jorge, para a trilha do filme “A Vida Marinha de Steve Zissou” chegou a afirmar que ele, Seu Jorge e seu português brasileiro haviam dado às suas músicas a sonoridade mágica com a qual ele sempre sonhara.
De uns tempos para cá, porém, parece que a situação começou a mudar. Depois dos anos dourados do Brasil com seu crescimento econômico até o ano de 2010 (o Brasil estava na moda nesse momento!) começamos a participar de discussões internacionais, sediamos uma Copa do Mundo e as Olimpíadas, temos um dos escritores mais lidos do mundo (Paulo Coelho) e um recomendado como cânon da literatura mundial (Machado de Assis).
Justamente, por tais motivos relacionados a nossa economia, é que o interesse é pelo "nosso português", e não pelo europeu (de Portugal) mostrar-se como o que mais cresce. E, apesar de nossas inúmeras diferenças regionais, de nossas confusões com os pronomes de tratamento (não existem muitas formalidades do lado de cá do Equador), ainda assim nosso português é extraordinariamente belo: sistematicamente europeu, sonoramente africano e naturalmente indígena. De um jeito que só nosso povo pode ser!
Enfim, apesar das dificuldades, aprender português será uma aventura exótica e valorosa! Uma aventura recompensadora! E, por que não dizer, que aos moldes de nosso povo, será uma aventura divertida!
Quer ver uma lista de famosos que falam português?
Shakira, Rick Martin, Nelly Furtado, Salma Hayek, Vincent Cassel, Jordana Brewster, Alfie Enoch e J. K. Rowling.
Essa língua quer e ainda pode muito!
PS: Sobre as versões de Seu Jorge para as músicas de Bowie: A versão de Rebel Rebel me parece a que mantém mais do original. Porém, a melhor das versões da trilha não foi feita por Seu Jorge e se chama: “Astronauta de Mármore” (Starman). É de uma banda chamada “Nenhum de Nós” e é um verdadeiro clássico nacional.
Qualquer pessoa que foi criança ou adolescente na década de 80 é capaz de cantar o refrão se acompanhado por um violão arranhado...
Valorizemos nossa língua!